Aspectos botânicos


Coffee blossom

BOTÂNICA

 

O café pertence à família botânica Rubiaceae, que tem cerca de 500 gêneros e mais de 6.000 espécies.  A maior parte são árvores e arbustos tropicais, que crescem nas áreas mais baixas das matas.  Outros membros da família são as gardênias e as plantas produtoras de quinino e de outras substâncias úteis, mas o gênero Coffea é o membro mais importante, em termos econômicos.

 

Família

Gênero

Espécies
(muitas, entre as quais:)

Variedades
(exemplos)

Rubiaceae

Coffea

Arabica

Typica

 

 

Canephora

Robusta

 

 

Liberica

 

 

A primeira descrição correta do gênero Coffea foi feita por Lineu em meados do século 18, mas desde então os botânicos não conseguiram pôr-se de acordo com respeito a um sistema preciso para sua classificação.  Há pelo menos 25 espécies importantes, todas nativas da África tropical e de algumas ilhas do Oceano Índico – de Madagáscar em particular.  A dificuldade em classificar e até mesmo designar uma planta como membro verdadeiro do gênero Coffea deve-se à grande variação de suas plantas e sementes.  Todas as espécies do gênero são lenhosas, mas em apresentação elas podem variar de pequenos arbustos a grandes árvores com mais de 10 metros de altura, com folhas amareladas, verde-escuro, cor de bronze ou com toques de púrpura.

 

Economicamente, as duas espécies mais importantes são o Coffea arabica (café Arábica) – que responde por mais de 60% da produção mundial – e o Coffea canephora (café Robusta).  Duas outras espécies cultivadas em menor escala são o Coffea liberica (café Libérica) e o Coffea dewevrei (café Excelsa).

 

Algumas diferenças entre o café Arábica e o café Robusta:

 

Arábica

Robusta

Data da descrição de espécie

1753

1895

Cromossomas (2n)

44

22

Período entre a flor e a cereja madura

9 meses

10-11 meses

Floração

após chuvas

irregular

Cerejas maduras

caem

permanecem

Rendimento (kg grãos/ha)

1500-3000

2300-4000

Sistema radicular

profundo

superficial

Temperatura ótima (média anual)

15-24° C

24-30° C

Precipitação pluvial ótima

1500-2000 mm

2000-3000 mm

Crescimento ótimo

1000-2000 m

0-700 m

Hemileia vastatrix

suscetível

resistente

Mal de koleroga

suscetível

tolerante

Nematóides

suscetível

resistente

Traqueomicose

resistente

suscetível

Broca

suscetível

resistente

Teor de cafeína do grão

0,8-1,4%

1,7-4,0%

Formato do grão

achatado

ovalado

Características típicas da bebida

ácida

amarga, encorpada

Corpo

média 1,2%

média 2,0%

Coffea arabica (café Arábica)

 

O Coffea arabica foi descrito pela primeira vez por Lineu em 1753.  Suas variedades mais conhecidas são o “'Typica” e o “Bourbon”, mas a partir dessas variedades desenvolveram-se muitas linhagens e cultivares, como o Caturra (Brasil, Colômbia), o Mundo Novo (Brasil), o Tico (América Central), o San Ramon anão e o Blue Mountain jamaicano.  O cafeeiro Arábica médio é um arbusto grande com folhas ovaladas verde-escuras. É geneticamente diferente de outras espécies de café, pois tem quatro conjuntos de cromossomas em vez de dois.  Os frutos são ovais e amadurecem em 7 a 9 meses.  Em geral eles contêm duas sementes achatadas (grãos de café); quando um único grão se desenvolve, ele é denominado “peaberry” (moquinha).  O Arábica pode sofrer ataques freqüentes de pragas e doenças; portanto sua resistência é um objetivo importante dos programas de reprodução vegetativa.  Seu cultivo faz-se em toda a América Latina, na África central e oriental, na Índia e, até certo ponto, na Indonésia.

 

Coffea canephora (café Robusta)

 

O termo “Robusta” na verdade é o nome de uma variedade silvestre desta espécie.  É um arbusto volumoso ou pequena árvore de até 10 metros de altura, mas com um sistema radicular de pouca profundidade.  Os frutos são arredondados e levam até 11 meses para amadurecer; as sementes são de formato ovalado e menores que as do C. arabica.  O café Robusta é cultivado na África ocidental e central, em toda o sudeste da Ásia e, até certo ponto, no Brasil, onde ele é conhecido como Conillon.

 

Coffea liberica (café Libérica)

 

O C. liberica cresce numa árvore grande e forte, que alcança até 18m de altura, com grandes folhas coriáceas. Seus frutos e sementes (grãos) também são grandes.  Ele é cultivado na Malásia e na África ocidental, mas só é comercializado em pequenas quantidades, pois há pouca demanda por suas características de sabor.

 

Referências

 

Clifford M.N. and Willson K.C. (Editors) - Coffee; botany, biochemistry and production of beans and beverage. London, Croom Helm, 1985

Wrigley G. - Coffee. London, Longman, 1988


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REPRODUÇÃO VEGETATIVA

 

Coffee cherriesCoffea arabica

 

O C. arabica é um tetraplóide (44 cromossomas) autopolinizante, com duas variedades botânicas distintas: Arábica (Typica) e Bourbon.  Historicamente a variedade que se cultivava na América Latina e Ásia era a Typica, ao passo que a variedade Bourbon chegou à América do Sul e, mais tarde, à África oriental, através da colônia francesa de Bourbon (Reunião).  Como o C. arabica é autopolinizante, essas variedades tendiam a ser geneticamente estáveis.  No entanto, mutações espontâneas com características desejáveis têm sido cultivadas por seus méritos e exploradas para fins de cruzamento.  Alguns dos mutantes e cultivares são descritos abaixo.

 

Mutantes: Caturra - uma forma compacta do Bourbon;  Maragogipe – um mutante da variedade Typica, de grãos volumosos;  San Ramon – um Typica anão; Purpurascens – formas com folhagem púrpura

 

Cultivares também foram desenvolvidos para produzir os maiores retornos econômicos possíveis em condições regionais específicas, tais como clima, solo, métodos de cultivo e prevalescência de pragas e doenças.  Alguns dos cultivares mais conhecidos são:

 

Blue Mountain – cultivado na Jamaica e no Quênia

 

Mundo Novo – um cruzamento do Typica com o Bourbon, inicialmente cultivado no Brasil

 

Kent – inicialmente desenvolvido na Índia, mostra alguma resistência a doenças

 

Catuaí – desenvolvido como híbrido do Mundo Novo e do Caturra, caracterizado por cerejas amarelas ou vermelhas: Catuaí-amarelo e Catuaí-vermelho, respectivamente.

 

Coffea canephora

 

O C. canephora é um diplóide auto-estéril, produzindo muitas formas e variedades diferentes em condições silvestres. A identificação dos cultivares é confusa, mas duas formas principais são reconhecidas:

 

“Robusta” – formas verticais

 

“Nganda” – formas espalhadas

 

Híbridos de Arábica / Robusta

 

O café tem sido reproduzido seletivamente para melhorar características de: crescimento e floração, rendimento, tamanho e formato do grão, qualidade da bebida, teor de cafeína, resistência a doenças e resistência a estiagens.

 

Os cruzamentos entre o Arábica e o Robusta são feitos para melhorar o Arábica, dando-lhe vigor e resistência a doenças, ou para melhorar a qualidade da bebida do Robusta.

 

O Híbrido de Timor é um híbrido natural do Arabica x Robusta que parece café Arábica e tem 44 cromossomas.

 

O Catimor é um cruzamento do Caturra e do Híbrido de Timor, e é resistente à ferrugem (Hemileia vastatrix).

 

Um novo híbrido anão chamado Ruiru Eleven, desenvolvido no Posto de Pesquisa do Café em Ruiru, Quênia, foi lançado em 1985.  O Ruiru 11 é resistente à broca e à ferrugem do café.  Também é de alto rendimento e adequado ao plantio em densidades duas vezes acima do normal.

 

Os híbridos Icatu resultam de repetidos cruzamentos retroativos de híbridos interespecíficos de Arabica x Robusta com os cultivares Mundo Novo e Caturra.

 

Os híbridos Arabusta são híbridos férteis interespecíficos de cruzamentos entre café Arábica e café Robusta autotetraplóide induzido.

 

Técnicas usadas na reprodução do café

 

1. Polinização controlada e multiplicação por semeadura

 

2. Propagação vegetativa (clonal)

  • Métodos tradicionais: enxerto, retirada de estacas
  • Novos métodos (cultura de tecidos): micropropagação, embriogênese somática

Em anos recentes vem-se investigando o potencial para a manipulação genética do Coffea usando tecnologia do DNA recombinante e técnicas de cultura de tecidos.  Pela introdução de novos genes para obter características tais como resistência a pragas ou a herbicidas, ou de codificação genética para obter atributos desejáveis de qualidade da bebida, talvez seja possível produzir cafeeiros com qualquer combinação de características que se deseje.

 

Referências

 

Clifford M.N. and Willson K.C. (Editors) - Coffee; botany, biochemistry and production of beans and beverage. London, Croom Helm, 1985

 

Wrigley G. - Coffee. London, Longman, 1988


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